10 de junho de 2008

Karl Marx: visão geral da vida e da metodologia (I)

Vida e principais construções teóricas

Karl Marx era filho de advogado judeu alemão convertido ao protestantismo. Nasceu em 1818 e morreu em 1883. Dedicou-se à história, ao direito e à filosofia. Não podendo dar aulas, tornou-se jornalista. Foi para Paris, de onde é expulso; exila-se em Bruxelas, e posteriormente muda-se para Londres.

Friedrich Engels pertencia a uma família de ricos proprietários de fiações na Inglaterra. Nasceu em 1820 e morreu em 1895. Encontrou-se com Marx em Bruxelas e criou, junto ao alemão, o materialismo dialético. Ambos julgam-se naturalmente comunistas, já que o socialismo era considerado um movimento burguês.

Em junho de 1847 é criada a Liga dos Comunistas, uma associação internacional de trabalhadores, que era naturalmente clandestina. O segundo congresso da Liga dos Comunistas, ocorrido em novembro/dezembro de 1847 decide publicar um Manifesto do Partido Comunista. A redação deste manifesto ficou sob responsabilidade de Marx.

O Manifesto do Partido Comunista é muito pequeno: a edição original alemã continha 23 páginas. O texto é dividido em quatro partes )vale destacar que as duas últimas partes "envelheceram"):

- Primeira parte -- Burgueses e proletários: é o núcleo do Manifesto; sua parte principal. Baseado em uma "filosofia da História".
- Segunda parte -- Proletários e comunistas: explica a posição dos comunistas em relação ao conjunto dos proletários.
- Terceira parte -- Literatura socialista e comunista: revisão de todas as formas de movimento social da época.
- Quarta parte -- Posição dos comunistas em face dos outros partidos da oposição: os comunistas apóiam qualquer movimento revolucionário contra o Estado social e político existente.

"Burguês", "proletário", "comunista": são os três principais protagonistas do grande desenvolvimento histórico. Marx e Engels levam em conta o passado, o presente e o futuro destas três grandes categorias humanas.

A idéia fundamental e diretriz do Manifesto é a seguinte: "Toda a história tem sido uma história de lutas de classes, de lutas entre classes exploradas e classes exploradoras; (...) essa luta chegou presentemente a uma fase em que a classe explorada e oprimida (o proletariado) não pode mais se libertar da classe que a explora e oprime (a burguesia) sem libertar (...) da exploração, opressão e lutas de classes, a sociedade inteira". Os comunistas são os únicos depositários, por conta do proletariado, da idéia fundamental e diretriz.

O materialismo dialético e o materialismo histórico constituem os embasamentos filosóficos do Manifesto.

- Materialismo: o mundo material, perceptível pelos sentidos, era a única realidade; fora dele nada existia; os seres humanos, criados pela imaginação religiosa dos homens, eram apenas "o reflexo fantástico" de seu próprio ser. A consciência e o pensamento eram apenas produtos de um órgão material: o cérebro.
- Materialismo dialético: estuda as coisas enquanto "processo", em perpétuo "vir-a-ser". Idéia conjunto de movimento e de contradições superadas. Após a tese ou afirmação, vinha a antítese ou negação, seguida da síntese ou negação da negação: este era o processo dialético, segundo o qual a realidade progredia pelas próprias contradições que gerava e resolvia. Ascensão contínua do inferior para o superior.
- Materialismo histórico: aplicação à História da filosofia do materialismo dialético. Daqui surge a idéia de infra-estrutura e de superestrutura: com raízes nas relações materiais da vida, ou seja, nos meios de existência, os homens contraem relações determinadas, necessárias e independentes de sua vontade, relações de produção que são correlativas a determinado estágio de desenvolvimento de suas forças produtivas. A estrutura econômica seria a base real de toda a sociedade, e é chamada por Marx e Engels de infra-estrutura; a partir dela, constrói-se a superestrutura jurídica, política, intelectual ou "ideológica". Assim, o mundo de produção da vida material determina em geral o processo social, político e intelectual da vida. É a maneira de ser social do homem que determina a sua consciência.

Diferenças entre socialismo e comunismo:

- Socialismo: termo ligado às transformações econômicas e sociais relacionadas ao desenvolvimento da grande indústria. Inicia-se com o surgimento do proletariado, e faz uma crítica às bases do individualismo econômico (propriedade particular dos meios de produção; lucro pessoal; livre concorrência, sem intervenção do Estado). Critica a liberdade e a igualdade "formais", ou seja, faz uma transposição desta crítica para o plano social.
- Comunismo: termo que ressaltava a ação de tornar comuns os bens; evocava uma tendência à ação proletária direta e brutal contra ordem social existente; designava, em geral, o "socialismo dos operários". O socialismo "amedrontava" os burgueses; era, contudo, um movimento relativamente burguês em relação ao comunismo, movimento operário por essência.

(Continua na próxima postagem.)

Nenhum comentário: