14 de setembro de 2007

A formação da cultura brasileira

Mais uma vez, resolvo colocar aqui idéias sobre a cultura brasileira. É um tema que me interessa e, creio eu, seja de fundamental importância na formação intelectual e acadêmica de qualquer pessoa que siga a área acadêmica.

Não são apenas os aspectos naturais que influem na formação de uma sociedade. Também os vários e diferentes aspectos sociais influem na sua formação. O caráter coletivo é decisivo na formação do tipo de sociedade.

Além da própria complexidade do caráter coletivo, tanto as várias influências sobre ele quanto, no caso específico brasileiro, o fato de a sociedade brasileira ainda ser uma sociedade jovem, em formação, é um fator que dificulta a definição de um caráter cultural do Brasil nos três primeiros séculos de sua história.

Apesar de haver grande coexistência entre brancos, negros e índios, foi a cultura do primeiro a que se sobrepôs em praticamente todos os pontos. A cultura negra e indígena, ao invés de se mostrar como realmente era, passou a idéia de que negros e índios eram pessoas “tristes e apagadas”, por causa da escravidão, mas na realidade era exatamente o contrário.

É difícil encontrar o brasileiro legítimo e autêntico porque a grande mistura entre as raças impossibilita tal ação. A variação de miscigenação em diferentes regiões faz com que não só o resultado de tal miscigenação seja diferente, mas também com que a própria cultura seja diferente em diferentes regiões.

No Brasil, o aspecto sentimental, e não o racional, teve bastante influência na formação do caráter coletivo e da cultura. A religião teve, e ainda tem, papel fundamental na vida dos brasileiros. A religião tinha um caráter quase familiar na sociedade brasileira, com o brasileiro tendendo para a dissolução de todas as hierarquias religiosas.

O brasileiro é dócil e receptivo, no que diz respeito a outros povos. A cultura brasileira é livre de interesses e simples, sendo, portanto mais acolhedora, mais humana. Pode-se até mesmo dizer que a cultura brasileira baseia-se muito mais nos seus sentimentos do que na razão propriamente dita.

Ainda que o povo brasileiro fosse dócil, acolhedor e amável, era um povo desconfiado. Assim, a recepção de forasteiros em uma vila no sertão do Nordeste era feita com festas e comemorações, mas também com desconfiança. Isto ocorreu por causa da própria vida difícil do início da colonização, quando os colonos deveriam viver por si próprios, expostos às seduções e perigos da vida.

Por estar em uma terra estranha, os colonos tiveram de habituar-se às vicissitudes da vida. O objetivo era sobreviver com a frugalidade do regime alimentar e dar importância à poupança nos gastos. O brasileiro não tinha “sede de ouro”, como outros povos. Vivia com o que tinha. Contudo, quando a sorte lhe era favorável, ele não sabia como usar seu dinheiro, e passava a exibir-se com o que tinha.

O pensamento brasileiro era guiado pela sensibilidade, e não pela razão. Isto ocorreu em virtude da grande influência religiosa na vida do povo, além das próprias condições de vida da população, a qual deveria primeiro encontrar seu alimento e seu vestuário e depois pensar em filosofia e na ciência.

O brasileiro age por instintos, não por ações logicamente calculadas. Por isso, ele às vezes demora ao tomar suas atitudes. Tal característica, contudo, não denota fraqueza da sociedade. Pelo contrário, pode ser considerada uma virtude, se pensarmos que o brasileiro prefere esperar a situação ocorrer para depois ver o que vai fazer.

O individualismo foi uma característica marcante na formação da cultura brasileira. Ele pode ser analisado tanto pelo seu lado benéfico quanto maléfico: o benéfico reside no fato de que os colonos tentavam viver por conta própria, ou seja, tinham de se virar para poder sobreviver em um imenso território desconhecido. Por outro lado, nas formações políticas o individualismo foi prejudicial, pois as pessoas não se uniam em torno de um objetivo comum.

O individualismo fez com que o Estado brasileiro fosse um recurso que precede os indivíduos e a que se recorre como um sistema de amparo e proteção. O Estado torna-se, desta forma, algo manipulável por aqueles que detêm o poder, ao invés de exprimir o bem comum a todos.

Se por um lado o brasileiro tem características gerais comuns a todos os seus habitantes, por outro cada região tem sua própria cultura, por assim dizer. Cada região tem suas próprias características físicas, as quais ajudam a moldar uma cultura própria do local.

Enfim, não é apenas as artes, e tampouco nas estruturas institucionais, nos processos da vida política e na religião que uma sociedade exprime seu caráter e suas tendências. A própria família e os processos educativos das crianças também mostram o caráter do povo brasileiro.

Por fim, pode-se dizer que os novos processos tecnológicos que estão sendo incluídos na sociedade brasileira no momento, bem como a urbanização, estão afetando a cultura do país. Estes novos processos, se por um lado aumentam ainda mais a diferenciação entre norte e sul, por outro não influi na “alma do povo”, que são aspectos comuns a todos, e que se refletem tanto nas suas glórias como em suas fraquezas.

Referências bibliográficas:

AZEVEDO, Fernando de. “A psicologia do povo brasileiro". In: _____. A cultura brasileira. 6ª Ed. Brasília: Editora da UnB e Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1996. Pág. 199-233.


Um comentário:

Káh disse...

Adoro essas suas postagens! Devo admitir que você me surpreende cada vez mais. :)


Beijos