22 de setembro de 2007

História do pensamento econômico (I)

Atendendo a pedidos, começarei uma nova série de artigos sobre economia. O objetivo é mostrar a evolução do pensamento econômico durante o decorrer da história passando por cinco correntes de pensamento: a escola clássica; a escola neoclássica; a escola marginalista; a escola marxista; e a escola keynesiana. Cada uma teve seu período de auge, mas elementos de todas elas estão presentes no pensamento econômico atual.

ECONOMIA CLÁSSICA

Adam Smith nasceu na Escócia, em 1723. Foi um bom aluno e estudou em Oxford e Glasgow como bolsista. Quase foi expulso da Universidade quando foi encontrado no seu quarto o Tratado sobre a Natureza Humana, de David Hume, livro considerado pouco recomendado. Era dotado para o ensino, tendo sido professor universitário na Escócia (Edimburgo e Glasgow).

Smith abandonou a carreira de professor para se tornar professor particular -- ocupação melhor paga e que lhe permitiu viajar pela Europa e conhecer pessoalmente muitos dos principais pensadores da época, entre eles Voltaire e François Quesnay.

O FUNDADOR DA ECONOMIA

Geralmente considera-se que a Economia foi fundada em 1776 com a publicação do livro A Riqueza das Nações, de Adam Smith. Isto não significa que não tenha existido pensamento econômico antes disso, ou mesmo “economistas” -- os fisiocratas são geralmente considerados “os primeiros economistas”. Muitas das análises expostas por Adam Smith já tinham sido formuladas anteriormente. No entanto, no seu livro, pela primeira vez, a teoria econômica é apresentada de forma sistemática e autônoma (independente de outras áreas do conhecimento, como a filosofia ou a ética).

O período de Adam Smith corresponde ao início da Revolução Industrial. No entanto, esse fato não é especialmente salientado no livro; as invenções técnicas e a mecanização da produção estavam dando os primeiros passos e, embora existisse um sentimento de otimismo relativamente ao papel da inovação tecnológica e organizativa -- e Adam Smith apresenta alguns exemplos -- não era evidente que se iria operar uma mudança tão grande na atividade produtiva como aconteceu.

A "MÃO INVISÍVEL"

A metáfora da "mão invisível" é talvez a mais famosa e citada contribuição de Adam Smith. Com ela pretende-se mostrar como a atuação de cada indivíduo, embora guiada apenas pelo interesse pessoal e não para o bem comum, acaba por contribuir para o bem de todos. "O indivíduo, ao tentar satisfazer o seu próprio interesse, promove, freqüentemente, de uma maneira mais eficaz, o interesse da sociedade, do que quando realmente o pretende fazer", dizia Smith (citado em CANO, 1998, p. 44).

Na verdade, aquilo que o indivíduo tem em vista é para seu próprio benefício e não o da sociedade, mas acaba por tomar as decisões mais vantajosas para a sociedade, como se estivesse sendo guiado por uma mão invisível a atingir um fim que não fazia parte das suas intenções.

"Não é da bondade do homem do talho, do cervejeiro ou do padeiro que podemos esperar o nosso jantar, mas da consideração em que eles têm o seu próprio interesse. Apelamos não para a sua humanidade mas para o seu egoísmo, e nunca lhes falamos das nossas necessidades, mas das vantagens deles" (SMITH, citado por CANO, 1998, p. 49).

Adam Smith não se limita a defender o comportamento egoísta do indivíduo, mas chega a pôr em dúvida a eficácia dos que agem por altruísmo, particularmente no ramo dos comerciantes: "Nunca vi nada de bom feito por aqueles que se dedicaram ao comércio pelo bem público" (SMITH, citado por CANO, 1998, p. 54).

DIVISÃO DO TRABALHO

Outro aspecto salientado por Adam Smith é o da divisão do trabalho. Para provar a vantagem desta forma de organizar a produção ele apresenta o exemplo da fábrica de alfinetes. Se cada operário se ocupasse em produzir cada alfinete do princípio ao fim, mal poderia produzir um alfinete num dia e não seria, com certeza, capaz de produzir vinte. Todavia, com a divisão e especialização de tarefas, "um homem puxa o arame, outro o endireita, um terceiro corta-o, um quarto aguça-o, um quinto afia-lhe o topo para receber a cabeça" e desta forma "dez homens produziam em conjunto mais de 48 mil alfinetes em um dia, ou seja, cada homem produziria quatro mil e oitocentos alfinetes por dia" (SMITH, citado por CANO, 1998, p. 56).

A vantagem desta forma de produzir, segundo Smith, é devida a três circunstâncias: possibilita a obtenção de maior destreza de cada homem, permite uma economia de tempo -- evita a perda de tempo de se passar de uma tarefa a outra -- e facilita o trabalho graças à utilização de máquinas apropriadas, porque os homens têm muito maior probabilidade de descobrir métodos mais fáceis e rápidos de atingir um certo objetivo quando toda a atenção do seu espírito está concentrada num único objetivo.

Outra conclusão é a de que a divisão do trabalho é limitada pela dimensão do mercado, ou seja, quanto maior o mercado, maiores são as possibilidades de realizar a divisão do trabalho, e, logo, maiores os ganhos.

No entanto, a divisão e a especialização do trabalho levantam um outro desafio: uma vez estabelecida a divisão do trabalho, o trabalho de cada homem não produz mais do que uma ínfima parte das suas necessidades e, portanto, a maior parte das suas necessidades só poderá ser satisfeita através da troca. Uma vez que a divisão do trabalho se tenha estabelecido completamente, só uma parte muito pequena das necessidades de cada pessoa será suprida pelo produto do seu trabalho e assim todos os homens vivem da troca.

(Continua na próxima postagem.)

Referências bibliográficas:

CANO, Wilson. Introdução à economia: uma abordagem crítica. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.

SAMUELSON, Paul A. & NORDHAUS, William D. Economia. 12ª Edição. Lisboa: McGraw-Hill, 1988.


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