24 de setembro de 2007

História do pensamento econômico (III)

Dando continuidade à série "História do pensamento econômico", coloco abaixo mais itens que compõem a chamada "escola neoclássica da economia", cujo principal representante é Alfred Marshall.

ESCOLA NEOCLÁSSICA

Marshall foi o protótipo do professor e investigador universitário. Toda a sua vida foi dedicada ao ensino e divulgação da economia. Era também uma pessoa preocupada com os problemas sociais do seu tempo, como o problema da pobreza, para cuja solução a economia deveria contribuir, como instrumento de reforma social.

A minha mais estimada ambição, o meu mais elevado propósito, será o de, com a minha fraca capacidade e a minha força limitada, poder aumentar o número daqueles que, partindo de Cambridge, a terra-mãe dos homens fortes, vão para o mundo com cabeça fria mas coração quente, dispostos a oferecer, pelo menos, parte das suas capacidades para lidar com o sofrimento social que nos rodeia, decididos a não sossegarem enquanto não tiverem feito o que estiver ao seu alcance para descobrir em que medida é possível proporcionar a todos os meios materiais para uma vida nobre e digna (MARSHALL, citado por CANO, 1998, p. 71.

Segundo Marshall, a teoria econômica deveria ser um mecanismo para a descoberta da verdade. Esta definição mostra que Marshall estava mais inclinado a encarar a economia como o estudo do comportamento humano do que como a ciência da riqueza.

No seu livro Princípios de Economia, Marshall utiliza um estilo didático, recorrendo a exemplos familiares para tornar acessíveis as suas idéias, enquanto que a argumentação lógica mais difícil foi relegada para as notas de rodapé -- o que levou Keynes a sugerir que os economistas fariam melhor em ler as notas e ignorar o texto.

A IMPORTÂNCIA DO TEMPO

A introdução do fator tempo é considerada uma das principais contribuições de Marshall, ou seja, a noção de que o processo de ajustamento da economia era diferente conforme se realizava no curto prazo ou o longo prazo.

Em períodos de tempo curtos a quantidade de produtos oferecidos pelos empresários era fixa, e o ajustamento entre oferta e procura far-se-ia de acordo com essa oferta fixa. Mas em um período de tempo mais longo a quantidade oferecida já não seria fixa: os empresários poderiam aumentar ou diminuir a capacidade de produção, por exemplo.

A diferenciação entre curto e longo prazo permite resolver o velho dilema de saber se o preço de mercado é influenciado pela utilidade subjetiva (utilidade marginal do consumidor) ou pelos custos de produção. Os economistas clássicos tinham tido a intuição de que ambas as coisas influenciavam o preço, mas não tinham conseguido esclarecer devidamente em que condições cada uma delas atuava. Marshall clarificou esta questão: no curto prazo é a utilidade que mais contribui para determinar o preço; no longo prazo esse papel cabe aos custos de produção.

Em todo o caso, a influência da oferta e da procura nunca se deixa de verificar, tanto no curto como no longo prazo. Ambas estão sempre presentes, contribuindo para a fixação dos preços; o que varia é o papel ativo ou passivo de cada uma. No curto prazo o papel ativo é desempenhado pela procura, no longo prazo pela oferta.

Desta forma elegante, Marshall integrou a teoria marginal na análise que os economistas clássicos tinham realizado, e esta síntese é um dos traços distintivos da Escola Neoclássica.

A ECONOMIA DO EQUILÍBRIO

Uma das idéias dominantes do pensamento econômico de Marshall era o da continuidade, que ele acentuou com a expressão latina Natura non facit saltum -- a natureza não atua por saltos, por rupturas ou transições bruscas. Toda a conceitualização do sistema de Marshall se orienta para o equilíbrio.

Marshall procurou compreender as regularidades inerentes aos fenômenos econômicos, com o objetivo de formalizar generalizações ou leis explicativas dessas regularidades. Trata-se portanto de um projeto de investigação científica. Mas Marshall associa ao comportamento econômico virtualidades morais, pretendendo que a atividade economia pode ajudar o indivíduo a formar um caráter saudável, ao contribuir para a promoção do bem comum. O projeto de Marshall é científico, mas igualmente moralista.

CETERIS PARIBUS

Compreendendo que o número de variáveis que atuam na esfera econômica é muito grande e que todo o sistema é complexo, ele isola os fenômenos, estuda uma variável de cada vez, partindo do pressuposto que tudo o resto se mantém constante, princípio que usualmente designamos pela expressão latina “ceteris paribus”.

Esta simplificação também se aplica aos mercados: embora na vida real exista uma influência mútua entre produtos, a análise marshaliana (igual à dos atuais manuais introdutórios de economia) analisa as condições de equilíbrio entre oferta e procura para cada produto isolado.

Outro aspecto desta simplificação é a da consideração do "homem econômico" (homo economicus). O comportamento do consumidor é descrito em termos puramente econômicos, embora se saiba que, na realidade, este comportamento é influenciado por muitos fatores não econômicos. Também aqui a simplificação toma a forma do princípio ceteris paribus: estudam-se apenas os fatores econômicos considerando que os restantes fatores se mantêm constantes (e, nesse caso, não influenciando o curso dos acontecimentos).

Outra idéia claramente marshaliana é a do excedente do consumidor, que ele define como o valor monetário da utilidade que um consumidor obtém quando o preço de compra desse bem é inferior ao preço que ele pagaria de preferência a passar sem esse bem. A soma do excedente dos vários consumidores de um bem corresponde à área compreendida entre a curva de procura de mercado e o preço desse bem. O conceito é elegante mas tem sido criticado pelas simplificações que pressupõe, principalmente a de que se pode adicionar as utilidades individuais dos consumidores e a de que a utilidade marginal da moeda não se altera com a modificação dos preços.

Outra criação marshaliana é a da elasticidade-preço da procura, que se transformou num instrumento padrão da medida da sensibilidade da procura de um produto quando o seu preço se altera.

(Continua na próxima postagem.)

Referências bibliográficas:

CANO, Wilson. Introdução à economia: uma abordagem crítica. São Paulo: Fundação Editora da UNESP, 1998.

SAMUELSON, Paul A. & NORDHAUS, William D. Economia. 12ª Edição. Lisboa: McGraw-Hill, 1988.


Um comentário:

Káh disse...

Olha gente que menino mais lindo da minha vida! Fazendo postagens sobre economia para ajudar a Chuzinha dele que se deu mal nessa matéria esse semestre.

Assim meu amor meus bambus nem balançam... eles despencam.

Brigadinha amoreco, cada dia esse sentimento que flui nas minhas entranhas por ti aumenta kkkkkkkkkkkkkk Que lindo!


Beijão