8 de outubro de 2007

As relações da mídia com a política (III)

Dando continuidade à série sobre as relações entre mídia e política, publico a primeira parte do resumo do segundo texto.

O CASO BRASILEIRO: INFLUENCIANDO O ELEITOR

Joseph Straubhaar, Organ Olsen e Maria Cavaliari Nunes

A democratização do Brasil pode ser comprovada através da criação do horário político gratuito, que garante a exposição dos partidos de maneira igualitária, além da garantia de que nem o governo nem a indústria da mídia irão fazer uso exclusivo da televisão.

Os três autores deste artigo partem do princípio de que as eleições presidenciais de 1989 foram marcadas pelo uso intensivo da televisão, mas não especificamente pelo fato de ter beneficiado um ou outro candidato, e sim pelo fato de que ambos tinha acesso ao horário eleitoral gratuito, e que foi este que permitiu uma maior exposição de todos os candidatos. Afinal de contas, mesmo com toda a "manipulação", que realmente aconteceu, em favor de Fernando Collor, por quê e como o Lula conseguiu atingir 47% dos votos?

Se por um lado vemos que a mídia é extremamente importante na área política, por outro temos de destacar que a mesma concentra-se nos efeitos presumidos do que em verificar como as pessoas percebem o que é passado pela mídia. Os autores, tendo este ponto em vista, pretendem derrubar algumas idéias que tendem a ver instituições da mídia, particularmente aquelas poderosas como a Rede Globo, como virtualmente onipotente na criação e manutenção de benefícios políticos a determinados candidatos.

TELEVISÃO: O MEIO DOMINANTE
A televisão é o meio de informação dominante no Brasil. Contudo, a comunicação interpessoal e/ou organizacional também é muito importante. A posição de domínio da televisão é decorrente da política de incentivos à mesma, durante o período militar. Obviamente que os militares utilizavam a televisão para controlar informações, através da censura. A partir de 1985, entretanto, a mídia pôde ter mais acesso na cobertura de assuntos políticos. A TV Globo "saiu na frente" no que se referiu a Tancredo Neves e Fernando Collor, apoiando os dois abertamente. Contudo, agora ela deve progressivamente dividir seu poder com outras redes de televisão.

A televisão existe para compensar a fraqueza existente nos outros meios de comunicação. São poucos rádios, poucos jornais, poucas revistas. Desta forma, o alcance da mídia impressa é praticamente limitado. Além disso, a televisão é a única que dá uma notícia nacional, tendo em vista que jornais e revistas têm caráter mais regional.

Uma grande forma de informação via televisão, na eleição de 1989, foi os diversos debates entre os candidatos, além do próprio horário eleitoral gratuito. Entretanto, alguns observadores perceberam o "tratamento especial" dado pela Rede Globo ao seu candidato, Fernando Collor de Melo, que veio a vencer a eleição.

A INFLUÊNCIA RELATIVA DA TELEVISÃO NA OPINIÃO PÚBLICA
Em uma pesquisa de opinião pública realizada em 1989, sobre quais as fontes de informação que o indivíduo mais usou para informar-se sobre as eleições, descobriu-se que, dos cinco primeiros, três itens estavam relacionados à televisão; contudo, dos três primeiros, duas fontes eram interpessoais e organizacionais.

Nota-se a importância da família, grupos da Igreja e vizinhos em formas de comunicação que não as de massa. Ainda, é importante destacar que a mentalidade das pessoas é formada juntando-se o que elas vêem na televisão com o que elas discutem entre si, na sua comunidade, no seu bairro, etc.; e o curioso é a interpretação que as pessoas dão para determinado assunto. Quando algo é exibido na TV, uma pessoa do norte / nordeste irá ter uma interpretação, tendo em vista suas próprias condições sociais, enquanto que uma pessoa do sul / sudeste poderá ter uma interpretação completamente diferente.

(Continua na próxima postagem.)


Nenhum comentário: