18 de março de 2008

Sobre Max Weber (II)

(Continuação da postagem anterior.)

Durante os anos de guerra, Weber publicou seus estudos religiosos e sociológicos. Logo após a guerra, publicou sua obra-prima, Economia e Sociedade. A série de leituras intitulada História Econômica Geral foi publicada postumamente.

Weber manteve-se sempre dentro de seus próprios conceitos políticos, no sentido de que não pendeu para nenhuma linha ideológica. Não era nem de direita, nem de esquerda: fazia -- e defendia -- o que achava ser correto. Weber procurava a verdade, custe o que custasse. Falava e fazia as coisas independentemente se o resultado lhe traria problemas ou não.

Max Weber concebeu a sociologia como uma ciência compreensiva da ação social. Em seu foco analítico nos atores humanos individuais, ele diferiu de muitos dos seus predecessores, cuja sociologia era concebida em termos sócio-estruturais. O foco de Weber estava nos significados subjetivos que os atores humanos anexam às suas ações nas suas mútuas orientações dentro de contatos sócio-históricos específicos.

Weber distinguiu quatro grandes tipos de ação social: a ação racional orientada a fins; a ação racional orientada por valores; ações com motivação emocional; e, por último, ações realizadas tendo por base a tradição.

Estes tipos de ação social permitiram que Weber fizesse distinções tipológicas sistemáticas, como por exemplo a distinção entre os tipos de autoridade. Além disso, serviram também como base para a investigação weberiana do curso do desenvolvimento ocidental em uma perspectiva histórica.

A conclusão de Weber é que a sociedade ocidental, que era seu foco de estudo, realiza ações orientadas a fins, e que esta mesma civilização já passou pelos outros "três estágios": tradição, emoções e racionalidade orientada por valores. Para Weber, seja na política, na economia ou até mesmo nas relações pessoais, a aplicação eficiente dos meios objetivando algum fim tornou-se predominante e substituiu outras formas de ação social.

Weber, entretanto, não analisas a história de maneira materialista ou idealista. A última unidade de análise weberiana continua sendo o agente concreto, e não suas idéias. "Conceitos como 'Estado', 'associação', 'feudalismo' e outros designam certas categorias da interação humana. Assim, é tarefa da sociologia reduzir estes conceitos a ações 'compreensíveis', que sejam, sem exceção, ações com a participação individual dos homens."

Weber rejeitava tanto os historicistas quanto os positivistas. Contra estes, Weber argumentou que os homens, diferentemente dos objetos, podem ser observados não só pelo seu comportamento, mas também por motivações internas; e, contra aqueles, Weber disse que o método científico, seja o objeto de estudo os homens ou objetos, sempre passa pela abstração e pela generalização.

De acordo com Weber, as diferenças entre as ciências naturais e as sociais nascem das diferenças de intenções do investigador, e não da teórica impossibilidade de aplicarem-se métodos científicos e generalizantes à ação humana. A diferença não está nos métodos de investigação, e sim nos diferentes interesses dos cientistas. O cientista social está preocupado tanto com generalizações do comportamento humano quanto nas qualidades particulares de cada um, e o objeto de pesquisa varia de acordo com os valores de cada pesquisador.

Se por um lado o conhecimento sobre a natureza vem "de fora", ou seja, é algo exterior ao homem, por outro, quando o pesquisador analisa as ações humanas, ele pode tentar descobrir os motivos daquela ação através da interpretação das ações e palavras humanas. Isto é chamado de "entendimento interpretativo". Tal método, entretanto, só é válido se ele puder ser incorporado em estruturas teóricas que contenham explicações satisfatórias.

Um cientista social dificilmente irá realizar algum trabalho sem ser influenciado pelos seus próprios valores. Weber argumenta, entretanto, que tais valores devem ser os do cientista, e não os do cidadão comum. Além disto, o cientista pode avaliar as conseqüências prováveis do curso da ação, mas não deve fazer julgamento de valor.

Weber foi o criador dos "tipos ideais". Ele fez isto porque o cientista poderia se "perder" em seu trabalho. Por exemplo, quando o conceito científico é muito geral, o cientista provavelmente irá esquecer pontos fundamentais e intrínsecos àquele conceito. Por outro lado, se ele usa a conceituação tradicional dos historiadores e particulariza o fenômeno em pauta, o cientista não dá espaço para a comparação com outros fenômenos correlatos. Daí a utilização de "tipos ideais".

(Continua na próxima postagem.)


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