20 de março de 2008

Sobre Max Weber (IV)

(Continuação da postagem anterior.)

É importante notar em Weber que ele define a autoridade tomando por base tanto os líderes quanto os seguidores, e não apenas os líderes, como seus contemporâneos faziam. A autoridade do líder só existe se os seguidores realmente acreditarem no mesmo.

Weber não se ateve ao significado que os atores impõem aos seus respectivos relacionamentos, ou seja, ele não se limitou ao estudo dos tipos ideais de ação social. Ele via tais ações sociais como forma de compreender as mudanças históricas. Ele percebeu que a mudança de uma ação de fundo tradicional para uma de fundo racional era crucial para a evolução humana. Ele mostrou que a ação racional dentro de um sistema de autoridade racional-legal era o núcleo da moderna e racionalizada economia, isto é, era o núcleo do sistema capitalista. É apenas neste sistema que os indivíduos realizavam a comparação custo-benefício de uma maneira racional. Para Weber, a racionalização da ação econômica só poderia ser feita quando o indivíduo abandonasse conceitos tradicionais de preços e taxas justas, e quando ele passasse e buscar satisfazer seus próprios interesses. Tal racionalização era baseada na ética protestante, que rompeu com o tradicionalismo e incutiu nos homens a idéia do trabalho racional, metodológico e rigoroso.

Esta posição de Weber vem do fato de que ele recusava-se a ver, nas idéias, simples reflexos de interesses materiais. As diferentes esferas da vida têm uma relativa autonomia, apesar de se influenciarem mutuamente. Não há uma harmonia preestabelecida entre o conteúdo de uma idéia e os interesses materiais daqueles que se tornam seus realizadores; apenas uma "afinidade eletiva" pode surgir entre os dois. Um exemplo de "afinidade eletiva" pode ser dado: as idéias calvinistas e as pretensões de certos burgueses, no século XVII.

Weber era fascinado pelas dinâmicas das mudanças sociais, e tentou mostrar que as relações entre um sistema de idéias e estruturas sociais eram multiformes e variadas, e que as conexões casuais existiam em ambas as direções, e não só da infraestrutura para a superestrutura.

O conceito weberiano para "classes" é muito próximo ao conceito marxista; qual seja, é uma categoria de homens que "têm em comum um componente causal específico em suas chances na vida de modo que este componente é representado exclusivamente por interesses econômicos na posse de bens e oportunidades para se obter renda, e é representado sob as condições do mercado de trabalho". A diferença é que Weber acrescenta os grupos estamentais.

Estes grupos estamentais são baseados nos modelos de consumo dos indivíduos, ao invés de basearem-se no lugar dos indivíduos no mercado ou no processo de produção. Tais grupos são normalmente comunidades, que são mantidas juntas através de idéias de estilo de vida próprios e pela estima social e pela honra oferecida por outros. Um grupo estamental só existe se os outros estão de acordo em relação ao prestígio dos seus membros, o que faz com que tais membros distingam-se dos outros na forma de "eles" e "nós".

Dentro de um grupo estamental, seus membros não precisam, necessariamente, estar dentro da mesma classe, na concepção marxista. Desta forma, um membro mais pobre do grupo pode exercer uma influência muito grande, quando por exemplo eles têm medo de perder seu status. O comportamento político pode, portanto, ser influenciado por pessoas que, na visão marxista, fazem parte do proletariado, mas que, na visão weberiana, fazem parte de um grupo estamental importante.

A sociedade, para Weber, está dividida não só em classes, mas também em grupos sociais estratificados. Os membros de um podem ou não ser membros do outro, e seus interesses -- os interesses de uma classe ou de um grupo -- podem ou não ser os mesmos.

Com esta dupla classificação da estratificação social, Weber fornece a base para o entendimento das formas pluralistas da sociedade moderna. Além disso, ele ajuda a explicar o por quê de, em alguns casos, esta sociedade estar dividida entre os que "têm" e os que "não têm".

Também na análise de poder da sociedade, Weber adotou uma postura pluralista. Ele viu que não são só os aspectos econômicos que garantem o poder a alguém. Por exemplo, homens que comandam grandes organizações burocráticas podem adquirir uma grande quantidade de poder econômico mesmo se forem apenas trabalhadores assalariados.

(Continua na próxima postagem.)


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