11 de junho de 2008

Karl Marx: visão geral da vida e da metodologia (II)

(Continuação da postagem anterior.)

A luta de classes é o segundo aspecto fundamental do Manifesto: desde que desapareceu a antiga propriedade comum do solo, lei das comunidades primitivas (que ignoravam a apropriação privada dos meios de produção), surgiram a opressão, a exploração do homem pelo homem.

O burguês é definido como o detentor do capital, o capitalista, o grande industrial que, graças à posse de um capital importante, faz trabalhar para si apreciável número de assalariados. Surge juntamente com novos mercados, novas mercadorias e novas formas de intercâmbio, tais como o comércio mundial, a navegação e as comunicações. A burguesia moderna, classe dominante, é então o produto de uma série de revoluções operadas no modo de produção e nos meios de comunicação.

Como a história política é um reflexo da história social, "(...) cada um desses estágios de desenvolvimento da burguesia acompanhava-se de um progresso político correspondente. (...) O governo moderno é apenas uma delegação que administra os negócios comuns de toda a classe burguesa" (MARX & ENGELS 2001, 10).

Um ponto importante a ser levado em consideração quando se fala da burguesia: esta classe não é de toda má. Um revolucionário dialético, científico, deve saber reconhecer a "necessidade histórica" na ascensão da burguesia. Deve mesmo aplaudir essa classe social pelo papel eminentemente revolucionário (ao menos no âmbito econômico) que desempenhou desde a Idade Média em todos os domínios, ou seja, a burguesia contribuiu, por meio da dialética, a fazer com que a sociedade como um todo avançasse. Porém, este mesmo papel revolucionário da burguesia irá causar o seu fim: as revoluções econômicas feitas pela burguesia (domínio da cidade sobre o campo, transformação de países bárbaros em civilizados, centralização econômica e demográfica, integração entre diversos países) tiveram como resultado a criação da classe operária (ou seja, do proletariado), que irá destruir dialeticamente a burguesia. Além disso, a superprodução também traz crises profundas para o capitalismo -- e conseqüentemente para a burguesia.

O proletariado é classe dos operários modernos, que só vivem na medida em que encontram trabalho e que só acham trabalho na medida em que seu próprio trabalho aumenta o capital. O aumento do capital é um "roubo" feito pelo capitalista em relação ao assalariado. É desta idéia que surge a teoria da mais-valia. O trabalho das mulheres e das crianças será preferido em relação ao dos homens, por ser mais barato. O salário tem tendência constante a diminuir, devido à concorrência e ao progresso técnico, que por sua vez aumentam numericamente a classe dos proletários (com inclusão de novos membros vindos de outras classes).

Ao tomar consciência de classe, os proletários passam a lutar contra burguesia. Em uma primeira fase, os operários lutam contra "os inimigos de seus inimigos": monarquia absoluta, proprietários rurais, pequenos burgueses -- que na verdade nada mais são do que entraves ao grande capitalista burguês. Com o aumento da massa de proletários, estes se unem para defender o nível de seu salário. Os choques com a burguesia assumem um caráter de luta de classes, de forma consciente. O importante não são as vitórias nas lutas, mas sim a união para tais lutas.

As demais classes sociais -- principalmente a classe média -- "definham e morrem" em face da grande indústria. A tendência da sociedade é se dividir em apenas duas classes --burguesia e proletariado. Aqueles da classe média que não conseguirem se unir à burguesia (a maioria da classe média, em termos numéricos) se junta à classe dos proletários. No entanto, quando a classe média luta contra a burguesia tendo consciência de sua própria classe, ou seja, luta como classe média e não como proletariado, ela o faz de forma reacionária, com o objetivo de autoconservação. Por isso, apenas o proletariado se encontra verdadeiramente livre para buscar seus objetivos.

"O movimento proletário é o movimento autônomo da imensa maioria no interesse da imensa maioria" (MARX & ENGELS 2001, 25). A tomada do poder por parte dos proletários é apenas a primeira fase da revolução: o proletariado precisa possuir o poder político, a fim de arrancar progressivamente da burguesia todo o capital, de centralizar nas mãos do Estado, isto é, do proletariado organizado como classe dirigente, todos os instrumentos de produção, e de aumentar ao máximo a massa das forças de produção. No início, o uso da violência será legitimado, com o objetivo de acabar com o domínio e a exploração da classe burguesa. A ditadura do proletariado é uma fase passageira.

De acordo com o método dialético, a tese seria a burguesia; a antítese, o proletariado; e a síntese, a sociedade sem classes. Sem classes, por conseguinte, sem antagonismos sociais, sem poder político no sentido próprio, sem Estado -- já que o Estado é apenas a tradução dos antagonismos de classe.

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