19 de setembro de 2007

Formação econômica do Brasil (V)

Dando continuidade à nova série sobre a formação econômica do Brasil durante o período colonial, abaixo apresento as idéias do livro de Celso Furtado, "Formação econômica do Brasil", cap. XVI ao XX.

A partir da segunda metade do século XVII, Portugal já não é a mesma potência que era nos séculos anteriores. Para continuar mantendo-se como potência colonial, é necessário que o país faça acordos com as potências emergentes. Portugal, então, une-se à Inglaterra, transformando-se praticamente em um protetorado inglês. Isto aconteceu porque Portugal estava sob ameaça permanente da Espanha, a qual não reconhecia sua independência, e da Holanda. Além disto, Portugal perdeu suas colônias orientais e o comércio de açúcar foi desestabilizado.

Em suma, os acordos anglo-portugueses garantiam aos ingleses benefícios econômicos em troca de promessas ou garantias políticas. Assim, Portugal conseguiu, pela força da marinha britânica, que a Espanha reconhecesse sua independência, além de assinar um tratado de paz com a Holanda.

Os dirigentes portugueses, em virtude do contínuo déficit na balança comercial, chegaram à conclusão de que deveriam investir em manufaturas, evitando-se, desta forma, que tais produtos fossem importados. Esta política chegou a ser implementada, mas com o início do ciclo do ouro no Brasil Portugal voltou a importar, gastando todo o dinheiro em bens que poderiam ser produzidos internamente e transferindo o impulso manufatureiro para a Inglaterra, pois era esta quem produzia as manufaturas e vendia-as para Portugal. Esta política garantiu a Portugal, também, o apoio inglês na questão de consolidação das fronteiras brasileiras.

Com a decadência do ouro brasileiro, não era mais interessante para a Inglaterra manter em vigor o Tratado de Methuen. Então, o país fez acordos comerciais com a França, tendo em vista que este era o maior mercado consumidor na Europa continental. Portugal perde a única vantagem que possuía na época, que era a venda, sem nenhuma concorrência, de seus vinhos à Inglaterra.

Após a independência brasileira, a situação não mudou muito. Como os dirigentes brasileiros eram descendentes diretos dos portugueses, a política externa brasileira não diferiu muito da política externa portuguesa. Para a Inglaterra foi vantajoso, pois o mercado brasileiro era muito maior que o português.

Em virtude dos tratados firmados com a Inglaterra, o Brasil sofreu uma extrema dependência daquele país nas primeiras décadas como país independente. Dificuldades econômicas apareceram, e estas dificuldades criaram focos de desagregação do território.

Com a expansão do café, os Estados Unidos passam a ser o maior parceiro comercial brasileiro, já na primeira metade do século XIX. O sentido de independência política frente à Inglaterra é definitivamente firmado. A autoridade do governo brasileiro firma-se nesta época. Contudo, do ponto de vista econômico, pouca coisa mudou, pois a estrutura brasileira continua sendo de base escravista, com produtos tropicais voltados para a exportação. Praticamente não há industrialização. A consolidação econômica irá acontecer com as tensões da economia cafeeira, das quais irão surgir elementos para subsidiar um impulso de crescimento.

As dificuldades econômicas pela qual passa o Brasil nos últimos 25 anos do século XVIII são várias. Com a decadência tanto do açúcar quanto do ouro, a renda per capita brasileira atinge o nível mais baixo de todo o período colonial.

Além dos núcleos açucareiro, no nordeste, e aurífero, em Minas Gerais, outros dois pontos de colonização destacavam-se na época: um era o Pará, que vivia em função dos índios explorados pelos jesuítas. O outro era o Maranhão que, apesar de ser um ponto isolado da economia colonial, com esta mantinha contato pela pecuária que estava ao seu redor.

O único ponto colonial que cresceu em fins do século XVIII foi o Maranhão. Desde o início, seus colonos perceberam que deveriam investir em dois produtos: algodão e arroz. Em virtude da guerra de independência dos Estados Unidos, tais produtos tiveram uma grande expansão no núcleo colonial maranhense, trazendo para este os benefícios de um rápido desenvolvimento.

Com exceção do Maranhão, todo o resto da colônia estava arrasado economicamente. Tanto o açúcar quanto o ouro estavam em decadência e, como conseqüência, a pecuária que estava ao redor destes dois pontos econômicos também teve dificuldades internas.

O otimismo volta à tona com a transferência da família real para o Brasil e da abertura dos portos. Somando-se este fato ao colapso da colônia açucareira francesa, o Haiti, a economia açucareira brasileira toma novo impulso. Também é plantado algodão no próprio nordeste, seguindo os passos maranhenses. Os produtos tropicais e o couro também se valorizam, devido à desagregação das colônias espanholas. A economia brasileira, então, tem um novo período de prosperidade. Contudo, é importante notar que esta prosperidade era passageira, devido apenas a fatores externos temporários de procura e não a uma real política externa brasileira. Após este surto, o Brasil encontrará dificuldades para defender sua posição no mercado externo.

Referências bibliográficas:

FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. 19ª Ed. São Paulo: Ed. Nacional, 1984. Cap. XVI-XX. Pág. 87-112.


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