Muito já foi dito sobre a Guerra Fria, confronto ideológico entre EUA e URSS – ainda que tenha havido alguns confrontos entre os dois países “na prática”. Este confronto marcou o século XX como, talvez, nenhum outro confronto tenha marcado a História como antes – ou talvez assim pensemos devido à proximidade histórica do evento (eu mesmo posso dizer, com orgulho, que nasci e vivi durante o período da Guerra Fria).
Acredita-se que, entre 1989 e 1991, a Guerra Fria acabou. Dois são os principais eventos ocorridos neste período: primeiro, a queda do muro de Berlim, em novembro de 1989, que separava fisicamente Berlim ocidental, controlada por EUA, Reino Unido e França, da Berlim oriental, controlada pela URSS, e que separava ideologicamente o mundo ocidental do mundo oriental; e segundo, o fim político da União Soviética, em dezembro de 1991, quando o chamado “Império do Mal” (expressão criada pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan) deixou de existir e, em seu lugar, surgiram 15 novos países independentes.
Como conseqüência do fim do chamado “socialismo real”, a década de 1990 foi marcada por um forte movimento liberalizante – que, por sinal, chegou inclusive ao Brasil –, fazendo com que praticamente todas as economias do mundo se interligassem cada vez mais e se tornassem dependentes uma das outras. Os próprios países que compunham a ex-URSS tornaram-se “alvos” da globalização, recebendo investimentos diretos e indiretos em boa parte de sua infra-estrutura como conseqüência da política de privatização implantada em tais países.
Acredita-se, assim, que não há mais o clima da Guerra Fria. Por um lado, considera-se que a Rússia está econômica, política e militarmente debilitada para fazer frente ao poderio norte-americano; a Europa, entendida como unidade econômica, política e militar, não tem interesse em fazer frente aos EUA; e a China, que, de acordo com previsões, ultrapassará os EUA como maior PIB do mundo a partir de 2020, continua com sua política de não-confrontação com os EUA, até porque depende – e muito – do comércio com tal país para garantir seus seqüentes superávits comerciais e, portanto, não tem interesse, por enquanto, de criar algum tipo de enfrentamento com os Estados Unidos.
No entanto, ainda que a Guerra Fria tenha acabado “na prática” – ou, em outras palavras, no que diz respeito ao eminente confrontamento militar –, no âmbito da retórica o movimento ainda continua. Nos últimos anos, especialmente nos últimos 3 ou 4 anos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, vem aumentando o tom de suas declarações frente aos interesses ocidentais. Diversos exemplos podem ser dados: a recusa da Rússia em legitimar, via ONU, uma intervenção no Iraque; a intervenção direta da Rússia em questões energéticas, diminuindo o envio de gás natural para a Europa; o tom duro das declarações do presidente Putin contra o uso indiscriminado da força, por parte dos EUA, durante conferência militar em Munique, na Alemanha; a recusa da Rússia em legitimar, via ONU, a independência do Kosovo. Por outro lado, a retórica americana também não fica atrás: há constantes declarações, por parte da administração norte-americana, de que o governo russo não é democrático; recentemente o Reino Unido também seguiu o coro norte-americano, afirmando que a Rússia não é uma democracia e que o governo atual está desfazendo todos os avanços democráticos obtidos na década de 1990; casos de espionagem contra a Rússia se sucedem; livros são lançados nos mercados norte-americano e europeu afirmando que o serviço secreto russo continua seguindo os padrões da antiga KGB (como se os serviços secretos ocidentais também não seguissem o mesmo padrão).
Disso tudo podemos concluir: a Guerra Fria pode ter oficialmente acabado, mas ela ainda continua presente na mentalidade de ambas as partes envolvidas. Exemplos claros desta presença do “outro” na mentalidade de ambos – e como este “outro” se torna o modelo de definição de si próprio – podem ser dados. Por um lado, Hollywood continua definindo a nacionalidade dos bandidos como russos (ainda que, nos últimos tempos, tenham surgido bandidos chineses, tailandeses e árabes em geral), deixando subentendido que os russos sempre são os “malvados” a serem controlados e vencidos. Por outro lado, os russos continuam se vangloriando de suas tradições e de sua história – e, com isso, colocam-se como intelectualmente superiores ao norte-americano médio, chegando ao ponto de ironizá-los como pessoas fúteis e que não acrescentam nada em termos intelectuais.
Em suma: a Guerra Fria “ideológica” está tão presente e vibrante quanto antes. Agora, é claro, o mundo não sofre a ameaça constante de uma guerra nuclear, mas a mentalidade de oposição e de superioridade perante o outro continua a mesma. Ainda que nós, aqui no Brasil, não estejamos mais diretamente relacionados com esta Guerra Fria, a mesma está presente nos influenciando nas esferas política, econômica e cultural. Cabe a nós buscarmos a melhor maneira de tirar algum proveito disso em prol do nosso próprio desenvolvimento.
Acredita-se que, entre 1989 e 1991, a Guerra Fria acabou. Dois são os principais eventos ocorridos neste período: primeiro, a queda do muro de Berlim, em novembro de 1989, que separava fisicamente Berlim ocidental, controlada por EUA, Reino Unido e França, da Berlim oriental, controlada pela URSS, e que separava ideologicamente o mundo ocidental do mundo oriental; e segundo, o fim político da União Soviética, em dezembro de 1991, quando o chamado “Império do Mal” (expressão criada pelo ex-presidente norte-americano Ronald Reagan) deixou de existir e, em seu lugar, surgiram 15 novos países independentes.
Como conseqüência do fim do chamado “socialismo real”, a década de 1990 foi marcada por um forte movimento liberalizante – que, por sinal, chegou inclusive ao Brasil –, fazendo com que praticamente todas as economias do mundo se interligassem cada vez mais e se tornassem dependentes uma das outras. Os próprios países que compunham a ex-URSS tornaram-se “alvos” da globalização, recebendo investimentos diretos e indiretos em boa parte de sua infra-estrutura como conseqüência da política de privatização implantada em tais países.
Acredita-se, assim, que não há mais o clima da Guerra Fria. Por um lado, considera-se que a Rússia está econômica, política e militarmente debilitada para fazer frente ao poderio norte-americano; a Europa, entendida como unidade econômica, política e militar, não tem interesse em fazer frente aos EUA; e a China, que, de acordo com previsões, ultrapassará os EUA como maior PIB do mundo a partir de 2020, continua com sua política de não-confrontação com os EUA, até porque depende – e muito – do comércio com tal país para garantir seus seqüentes superávits comerciais e, portanto, não tem interesse, por enquanto, de criar algum tipo de enfrentamento com os Estados Unidos.
No entanto, ainda que a Guerra Fria tenha acabado “na prática” – ou, em outras palavras, no que diz respeito ao eminente confrontamento militar –, no âmbito da retórica o movimento ainda continua. Nos últimos anos, especialmente nos últimos 3 ou 4 anos, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, vem aumentando o tom de suas declarações frente aos interesses ocidentais. Diversos exemplos podem ser dados: a recusa da Rússia em legitimar, via ONU, uma intervenção no Iraque; a intervenção direta da Rússia em questões energéticas, diminuindo o envio de gás natural para a Europa; o tom duro das declarações do presidente Putin contra o uso indiscriminado da força, por parte dos EUA, durante conferência militar em Munique, na Alemanha; a recusa da Rússia em legitimar, via ONU, a independência do Kosovo. Por outro lado, a retórica americana também não fica atrás: há constantes declarações, por parte da administração norte-americana, de que o governo russo não é democrático; recentemente o Reino Unido também seguiu o coro norte-americano, afirmando que a Rússia não é uma democracia e que o governo atual está desfazendo todos os avanços democráticos obtidos na década de 1990; casos de espionagem contra a Rússia se sucedem; livros são lançados nos mercados norte-americano e europeu afirmando que o serviço secreto russo continua seguindo os padrões da antiga KGB (como se os serviços secretos ocidentais também não seguissem o mesmo padrão).
Disso tudo podemos concluir: a Guerra Fria pode ter oficialmente acabado, mas ela ainda continua presente na mentalidade de ambas as partes envolvidas. Exemplos claros desta presença do “outro” na mentalidade de ambos – e como este “outro” se torna o modelo de definição de si próprio – podem ser dados. Por um lado, Hollywood continua definindo a nacionalidade dos bandidos como russos (ainda que, nos últimos tempos, tenham surgido bandidos chineses, tailandeses e árabes em geral), deixando subentendido que os russos sempre são os “malvados” a serem controlados e vencidos. Por outro lado, os russos continuam se vangloriando de suas tradições e de sua história – e, com isso, colocam-se como intelectualmente superiores ao norte-americano médio, chegando ao ponto de ironizá-los como pessoas fúteis e que não acrescentam nada em termos intelectuais.
"Se a maioria dos blogs mantidos por norte-americanos focam em suas vidas pessoais, hobbies e interesses compartilhados com uma dúzia de amigos, o LiveJournal [serviço de blogs] na Rússia é estruturado ao redor de um grupo de figuras sociais centrais que produzem alguns dos mais profundos comentários políticos [da atualidade], ao mesmo tempo em que comandam, cada um, audiências de vários milhares de ardentes leitores” (Revista Russia Profile, número 6, volume IV, julho de 2007, pág. 52)
Em suma: a Guerra Fria “ideológica” está tão presente e vibrante quanto antes. Agora, é claro, o mundo não sofre a ameaça constante de uma guerra nuclear, mas a mentalidade de oposição e de superioridade perante o outro continua a mesma. Ainda que nós, aqui no Brasil, não estejamos mais diretamente relacionados com esta Guerra Fria, a mesma está presente nos influenciando nas esferas política, econômica e cultural. Cabe a nós buscarmos a melhor maneira de tirar algum proveito disso em prol do nosso próprio desenvolvimento.
2 comentários:
Parabéns pela iniciativa, tenho certeza que eu como aluna adorarei este blog, não que eu não goste do outro muito pelo contrário o que vem de você é sempre muito bom.
Ei, faz uma "pesquisa" põe o contador de visitantes aqui também, vamos ver se o blog pessoal ou o acadêmico tem mais visitas... tenho um palpite...
Beijo beijo
ps: Não resiti eu tinha que ser a 1º a comentar aqui, só para não quebrar a tradição!
Não sou sua aluna e nem o conheço pessoalmente, mas gostaria de dizer que é um dos blogs mais interessantes que já vi. Inteligente, esclarecedor e de fácil compreensão a despeito da profundidade com que os assuntos são abordados.
Parabéns professor você é muito bem preparado mesmo sendo ainda muito jovem.
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