Hoje à tarde recebi uma mensagem de uma amiga minha na qual ela fazia a seguinte pergunta: “Você pode me dizer o que para você é civilização?” Na hora que recebi a mensagem, logo pensei: não poderia haver uma pergunta mais fácil?
Geralmente, quando se fala em civilização, vem à mente a idéia de progresso. Acredita-se que civilizadas sejam aquelas regiões do mundo nas quais o progresso técnico é elevado, nas quais os costumes são considerados “refinados” e nas quais não há barbáries, ou seja, nas quais os direitos humanos são preservados. Um grupo social que come à mesa, de garfo e faca, é mais civilizado do que outro, que come com as mãos. Não é à toa que os dicionários, de maneira geral, dão este sentido à palavra:
1) Ação de civilizar;
2) Estado do progresso e cultura social;
3) Progresso nas artes, nas ciências, nos costumes, nas técnicas, etc., de uma sociedade.
O verbo "civilizar" também é pouco proveitoso para o que diz respeito a tal palavra:
1) Tornar civil;
2) Dar civilização a;
3) Educar.
As acepções acima foram dadas por um dicionário de português de Portugal disponível na internet (link aqui). Mas a idéia de civilização como um processo evolucionário no qual se parte do “pior” para o “melhor” não está circunscrito aos dicionários: diversos livros e trabalhos acadêmicos lidam com o conceito de civilização seguindo este princípio, ou seja, de que há uma evolução no mesmo. O autor que mais me vem à mente no momento é Norbert Elias e seu livro O processo civilizador (Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 1993 – Vol. 2 e 1994 – Vol. 1). Neste livro, o autor traça, no volume 1, o que chama de “história dos costumes”: como os homens, durante a Idade Média, foram – nas palavras do autor – se “civilizando” a partir do momento em que não cuspiam em cima da mesa, que passaram a usar garfo e faca, que passaram a entregar a faca ao outro pelo cabo; o autor mostra como os costumes, ao longo do tempo, foram mudando até chegar aos costumes atuais, especialmente no que diz respeito a questões relacionadas à etiqueta. Já no volume 2 Elias mostra como o chamado “processo civilizador” contribuiu para uma evolução política, saindo-se de uma estrutura feudal, descentralizada e politicamente improdutiva, passando pelas lutas entre senhores feudais para o estabelecimento de um monarca último, até chegar às monarquias absolutistas dos séculos XVII e XVIII. Inegável, para Elias, que há uma evolução, que há uma melhoria ao se relacionar a maneira de viver de hoje à maneira de viver a 500 anos.
Por outro lado, vejamos, logo abaixo, o que diz o dicionário Houaiss, em sua versão eletrônica:
1) Ato ou efeito de civilizar(-se);
2) Conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade;
3) Condição de adiantamento e de cultura social; progresso;
4) Tipo de cultura;
5) Rubrica: sociolingüística. Em sociolingüística, o conjunto dos elementos materiais, intelectuais e espirituais característicos de uma sociedade, e por ela transmitidos.
O dicionário Houaiss nos dá uma resposta que corresponde à visão evolucionista da sociedade (disponível nos itens 1 e 3), mas também nos dá a outra acepção que o termo possui: a de um conjunto de aspectos característicos “de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade” (itens 2, 4 e 5). É a visão que associa civilização à cultura, e, em realidade, este deveria ser o único contexto a ser levado em consideração quando se pensa sobre o termo “civilização”. Outras duas citações podem ser feitas sobre o tema:
Como podemos ver, há outro sentido para o termo, muito mais relacionado à esfera cultural. Por civilização teríamos, portanto, o conjunto do desenvolvimento cultural, político, religioso, econômico e social – dentre outras esferas – de determinado conjunto de pessoas que se situam em determinado território. E, neste sentido, não há porque se falar em civilização superior a outra, e sim em civilizações em níveis diferentes – o que facilitaria, e muito, o diálogo inter-civilizatório que é extremamente necessário neste início de século XXI. Se deixássemos de enxergar o processo civilizatório como algo eminentemente evolutivo, e se nos concentrássemos no caráter cultural de tal processo, o diálogo entre civilizações seria muito mais fácil e, conseqüentemente, não haveria a contínua vontade, por parte da chamada “civilização ocidental”, de impor o seu modo de vida e o seu modo de ver a vida às demais civilizações que compõem o mundo. Se por “civilização” entendêssemos “cultura”, ficaria muito mais fácil compreender as demais civilizações e ver que não há uma superior e outra inferior, mas apenas diferentes maneiras de se enxergar a mesma coisa.
Geralmente, quando se fala em civilização, vem à mente a idéia de progresso. Acredita-se que civilizadas sejam aquelas regiões do mundo nas quais o progresso técnico é elevado, nas quais os costumes são considerados “refinados” e nas quais não há barbáries, ou seja, nas quais os direitos humanos são preservados. Um grupo social que come à mesa, de garfo e faca, é mais civilizado do que outro, que come com as mãos. Não é à toa que os dicionários, de maneira geral, dão este sentido à palavra:
1) Ação de civilizar;
2) Estado do progresso e cultura social;
3) Progresso nas artes, nas ciências, nos costumes, nas técnicas, etc., de uma sociedade.
O verbo "civilizar" também é pouco proveitoso para o que diz respeito a tal palavra:
1) Tornar civil;
2) Dar civilização a;
3) Educar.
As acepções acima foram dadas por um dicionário de português de Portugal disponível na internet (link aqui). Mas a idéia de civilização como um processo evolucionário no qual se parte do “pior” para o “melhor” não está circunscrito aos dicionários: diversos livros e trabalhos acadêmicos lidam com o conceito de civilização seguindo este princípio, ou seja, de que há uma evolução no mesmo. O autor que mais me vem à mente no momento é Norbert Elias e seu livro O processo civilizador (Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editora, 1993 – Vol. 2 e 1994 – Vol. 1). Neste livro, o autor traça, no volume 1, o que chama de “história dos costumes”: como os homens, durante a Idade Média, foram – nas palavras do autor – se “civilizando” a partir do momento em que não cuspiam em cima da mesa, que passaram a usar garfo e faca, que passaram a entregar a faca ao outro pelo cabo; o autor mostra como os costumes, ao longo do tempo, foram mudando até chegar aos costumes atuais, especialmente no que diz respeito a questões relacionadas à etiqueta. Já no volume 2 Elias mostra como o chamado “processo civilizador” contribuiu para uma evolução política, saindo-se de uma estrutura feudal, descentralizada e politicamente improdutiva, passando pelas lutas entre senhores feudais para o estabelecimento de um monarca último, até chegar às monarquias absolutistas dos séculos XVII e XVIII. Inegável, para Elias, que há uma evolução, que há uma melhoria ao se relacionar a maneira de viver de hoje à maneira de viver a 500 anos.
Por outro lado, vejamos, logo abaixo, o que diz o dicionário Houaiss, em sua versão eletrônica:
1) Ato ou efeito de civilizar(-se);
2) Conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística, moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade
"A civilização é o estágio da cultura social e da civilidade de um agrupamento humano caracterizado pelo progresso social, científico, político, econômico e artístico. Quanto maior a civilidade e mais evoluída uma nação, maior é o seu grau de civilização. O vocábulo deriva do latim Civita que designava cidade e civile (civil) o seu habitante.
"A civilização é um processo social em si, inerente aos grupamentos humanos que tendem sempre a evoluir com a variação das disponibilidades econômicas, principalmente alimentares, e sua decorrente competição por estes com os grupamentos vizinhos. Alguns historiadores têm defendido que o surgimento de grandes civilizações sempre depende do progressivo acúmulo de recursos naturais por um determinado grupo étnico e tem por detonador o acúmulo de poder bélico nas mãos de certos líderes e suas famílias. A hegemonia de tais grupos sobre outros acaba sempre influenciando culturalmente toda a região e o produto, invariavelmente, redunda em um novo regramento social, impressionantes construções e a produção de obras de arte numa etapa posterior." (Wikipédia em português.)
"O termo 'civilização' tem uma variedade de significados relacionados à sociedade humana. Na maioria das vezes, ele é usado para se referir a sociedades 'complexas': aquelas que praticam agricultura intensiva; que têm uma significativa divisão do trabalho; e que têm densidade populacional suficiente para formar cidades. O termo "civilização" pode ser usado mais amplamente para se referir à soma, ou à extensão atual, dos feitos humanos (civilização humana ou civilização global)." (Wikipédia em inglês.)
Como podemos ver, há outro sentido para o termo, muito mais relacionado à esfera cultural. Por civilização teríamos, portanto, o conjunto do desenvolvimento cultural, político, religioso, econômico e social – dentre outras esferas – de determinado conjunto de pessoas que se situam em determinado território. E, neste sentido, não há porque se falar em civilização superior a outra, e sim em civilizações em níveis diferentes – o que facilitaria, e muito, o diálogo inter-civilizatório que é extremamente necessário neste início de século XXI. Se deixássemos de enxergar o processo civilizatório como algo eminentemente evolutivo, e se nos concentrássemos no caráter cultural de tal processo, o diálogo entre civilizações seria muito mais fácil e, conseqüentemente, não haveria a contínua vontade, por parte da chamada “civilização ocidental”, de impor o seu modo de vida e o seu modo de ver a vida às demais civilizações que compõem o mundo. Se por “civilização” entendêssemos “cultura”, ficaria muito mais fácil compreender as demais civilizações e ver que não há uma superior e outra inferior, mas apenas diferentes maneiras de se enxergar a mesma coisa.
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