1 de dezembro de 2008

Geopolítica (II)

(Continuação da postagem anterior.)

Chegamos, enfim, a 1848. Neste ano, diversas revoluções agitaram a Europa, e a estrutura do equilíbrio de poder – na qual se baseava a Santa Aliança – não conseguiu manter a ordem européia. Há a necessidade de um novo fator mantenedor da paz e da ordem, e este fator é a alta finança. Surge, então, o Concerto Europeu.

O Concerto Europeu foi a outra “instituição” existente no século passado. Sua atuação deu-se na segunda metade do século XIX, e era fundamentado não só no equilíbrio de poder, mas principalmente na alta finança – “rede” de banqueiros e comerciantes que influenciava os governos nacionais, e que fez de tudo para garantir a paz e a ordem através de fatores econômicos. Assim, o Concerto Europeu agiu de forma muito mais “sutil” do que a Santa Aliança, tendo em vista o fato de que o Concerto Europeu raramente se utilizava de exércitos para impor sua ordem. Ao invés disso, o Concerto Europeu utilizava o poder econômico para forçar os governos nacionais a manterem a ordem, e a manterem-se na ordem; aquele que não seguisse as regras do comércio internacional não seriam beneficiados com o capital “desenvolvimentista”.

Deve-se lembrar, contudo, que, além da alta finança, também o equilíbrio de poder teve um papel fundamental no período do Concerto Europeu. Isto tanto é verdade que, quando os países europeus se aliaram uns aos outros, com a Inglaterra, a França e a Rússia de um lado, e a Alemanha, a Itália e o Império Austro-Húngaro de outro, este equilíbrio de poder deixou de existir – pois só existiam duas forças econômicas, políticas e militares antagônicas –, o que levou à Primeira Guerra Mundial.

4. Identifique um paralelo e/ou um contraste entre o período estudado por Polanyi e o momento atual da “globalização”.

Há várias formas de se fazer comparações e paralelos entre o século XIX e o período atual do nosso século. Podemos fazer comparações econômicas, políticas, ideológicas, dentre outras.

No aspecto econômico, creio que a maior comparação possível é entre a alta finança e o atual sistema financeiro internacional. Se, no século passado, tínhamos banqueiros que financiavam o desenvolvimento através de obras por todo o mundo, atualmente temos um sistema de instituições que fazem – ou tentam fazer – a mesma coisa. Há várias diferenças, entretanto: uma delas é que, se antes os financiadores eram famílias ricas e poderosas, atualmente são instituições impessoais que têm este papel. Além disso, o objetivo do auxílio econômico atual é diferente do anterior: antes, o dinheiro era utilizado para obras desenvolvimentistas, ou seja, obras que garantiriam a infra-estrutura necessária para a manutenção e expansão do comércio, como ferrovias, por exemplo. Atualmente, o dinheiro é utilizado para obras de cunho mais social, e a infra-estrutura construída atualmente tem como objetivo o bem-estar da população.

No campo político, temos a questão do equilíbrio de poder. No século XIX, este equilíbrio era muito visível, apesar de ser imposto, de ser forçado; tanto que o próprio Polanyi fala de uma “paz armada”, ou seja, os países mantinham-se “amigáveis” uns aos outros mas ao mesmo tempo se preparavam para eventuais conflitos armados. Além disso, mesmo havendo uma potência hegemônica – a Inglaterra –, havia outras grandes potências no cenário internacional, as quais tinham de ser tratadas “de igual para igual” em relação aos outros países.

A situação atual possui semelhanças, mas principalmente diferenças. Até há dez anos atrás, havia o sistema de equilíbrio de poder – mas, diferentemente do equilíbrio do século passado, que era multipolar, o equilíbrio do século XX foi bipolar, com duas superpotências mundiais disputando áreas de influência. Mesmo após a queda do comunismo, contudo, ainda existe o sistema de equilíbrio de poder, mas de uma forma diferente: as potências grandes e médias estão se unindo para fazer frente à única superpotência atual – os Estados Unidos. É o que ocorre, por exemplo, com a União Européia – união de potências grandes – e, em escala menor, com o Mercosul – união de potências médias e pequenas. Não podemos esquecer, entretanto, da possibilidade muito real de surgimento de novas potências que possam fazer frente aos Estados Unidos, pelo menos em alguns campos – como é o caso da China e, ainda hoje, da Rússia.

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