28 de outubro de 2007

A visão de mundo expressa pelo “Manifesto Comunista”

Em uma das postagens anteriores, recebi o comentário que reproduzo abaixo:

"...uma parte servia para pagar a subsistência dos trabalhadores (salários), outra para repor o capital inicialmente utilizado, e sobrava uma última parte de que os capitalistas, indevidamente, se apropriavam.."

Então essa última parte é a famosa mais-valia, ou seja, o "lucro"?

Mas se os caras não tiverem um ganho qual seria então o objetivo de ter uma empresa? Dar emprego, dinheiro e ficar no 0?

Para dirimir tal dúvida, apresento abaixo um breve resumo da visão de mundo expressa pelo “Manifesto do Partido Comunista”, famoso livro de Karl Marx e Friedrich Engels no qual ambos os autores expressão sua visão comunista da sociedade. Vale destacar que tal visão é específica de tais autores e que, ainda que ambos tenham se tornado os principais líderes do movimento socialista-comunista no mundo, há outras visões socialistas da sociedade. Apresento aqui a marxista por ser ela a principal e mais difundida visão.

O Manifesto Comunista, originalmente denominado Manifesto do Partido Comunista, foi publicado pela primeira vez em 21 de fevereiro de 1848. É, historicamente, um dos tratados políticos de maior influência mundial. Comissionado pela Liga Comunista e escrito pelos teóricos fundadores do socialismo científico Karl Marx e Friedrich Engels, expressa o programa e propósitos da Liga Comunista, instituição que buscava a implantação do socialismo na Inglaterra e no mundo. O Manifesto sugere um roteiro de ação para que uma revolução do proletariado (classe trabalhadora) acabasse com a ordem social burguesa e, eventualmente, criasse uma sociedade sem classes e sem estado, além de defender a abolição da propriedade privada (WIKIPÉDIA, 2007).

Segundo o livro, no início da Revolução Industrial as condições de vida dos operários eram miseráveis. Há relatos que dizem que era comum patrões obrigarem os operários, inclusive mulheres e crianças, a cumprirem jornada diária de trabalho de quinze ou mais horas, sem direito a benefícios ou qualquer assistência. Erros e faltas eram severamente punidos. Crianças eram regularmente chicoteadas no trabalho. Em 1769 estabeleceu-se, por lei, a pena de morte ao operário que danificasse uma máquina. Mas por que isso estava acontecendo?

Para tentar explicar essa degradante situação, surgiram pensadores que concluíram que ela não era decorrente da Revolução Industrial em si, mas sim do novo tipo de sociedade que surgiu com ela: a capitalista. Concluíram também que o capitalismo é totalmente injusto e irracional e o grande problema estava na propriedade privada. Os donos das terras, minas, bancos, empresas só eram ricos porque exploravam o trabalhador. Pensemos o seguinte: o dono de uma empresa ganha muito mais que seus 1000 funcionários, mas será que ele trabalha mais do que eles e merece receber mais? Com certeza não. A solução seria acabar com a propriedade privada e instituir a coletividade. Não haveria o “meu” e o “seu”, mas sim o “nosso”. Todos trabalhariam e repartiriam o fruto de seus esforços. Não haveria empregado, patrão ou desigualdades sociais. Todos os homens teriam iguais chances de estudo e trabalho. A humanidade finalmente entraria numa fase de harmonia, na qual todos seriam socialmente iguais e absolutamente livres. Essa sociedade seria chamada de comunista.

Em 1848 mudou-se completamente o método de análise da sociedade, da luta de classes e da própria construção de uma sociedade socialista. Em O Manifesto do partido comunista, Karl Marx e Friedrich Engels formularam uma nova concepção da História.

Para os dois pensadores, a burguesia moderna nasceu das cinzas da sociedade feudal e, ao invés de remover as disputas de classe (objetivo pelo qual a burguesia foi criada), fez o contrário: manteve o mesmo esquema de dominação, e quase sempre piorou ainda mais a situação dos proletários.

Por burguesia compreende-se a classe dos capitalistas modernos, proprietários dos meios de produção social, que empregam o trabalho assalariado. Por proletariado compreende-se a classe dos trabalhadores assalariados modernos que, privados de meios de produção próprios, vêem-se obrigados a vender sua força de trabalho para poder existir.

Marx diz também que a burguesia, além de dominar os proletários de seu próprio país, está também invadindo outros países, tentando dominar seus proletários. Isto ocorre porque a burguesia deseja obter lucros cada vez maiores, e se a população do seu país já não consegue absorver os bens produzidos, então a solução é tentar vender estes bens em outros lugares do mundo. Vale notar que esta internacionalização dos bens refere-se tanto à capacidade material quanto à capacidade intelectual.

Com o objetivo de dominar e explorar os cidadãos, a burguesia centralizou os meios de produção, concentrou a propriedade em poucas mãos e aglomerou as populações. Assim, províncias que antes viviam isoladamente, ou no máximo com um pequeno contato com outras, foram unidas, sendo regidas por uma lei, por um só governo, um só interesse nacional.

A burguesia utilizou o capitalismo para chegar à perfeição material por meio da superprodução. Contudo, como absorver esta superprodução? Por meio da conquista de novos mercados e da exploração mais intensa dos mercados antigos. Novamente, caímos no problema da exploração do proletariado pela burguesia.

O operário transforma-se em um acessório para a máquina, e seus salários decrescem na medida em que seu trabalho torna-se mais e mais enfadonho. O custo do operário reduz-se aos meios básicos de manutenção para seu sustento e perpetuação.

Por mais que as pessoas pensem que os sindicatos e as uniões trabalhistas ajam em benefício da classe operária, quem está por trás de tais atitudes é a classe burguesa. A burguesia utiliza a união proletária em seu próprio favor, fazendo com que esta união acabe com os restos da monarquia, com os proprietários rurais, com os pequenos burgueses. Estes, estando derrotados, não irão oferecer resistência ao ímpeto dominador da classe burguesa.

Chegará um momento em que, devido a esta manipulação do proletariado por parte da burguesia para atingir os objetivos desta última, os primeiros irão ter condições intelectuais de unirem-se contra a burguesia, ou seja, os proletários tomarão consciência de classe, e só então poderão agir em conjunto contra a classe burguesa. Na hora decisiva, a ação será estritamente violenta.

A classe média não pode ser considerada como uma classe proletária porque defende seus interesses próprios, e não os do proletariado. A burguesia atrapalha a classe média, e é por isto que esta luta contra aquela. A classe média é, portanto, conservadora, e não revolucionária. Quando é revolucionária, luta não pelos seus interesses atuais, mas por seus interesses futuros.

Os comunistas, portanto, aparecem como a elite dirigente dos operários, com o objetivo de transformá-los em uma classe com representatividade, derrubar a supremacia burguesa e conquistar o poder político. O objetivo primordial dos comunistas é destruir a propriedade privada. Isto porque é esta propriedade que faz com que a burguesia seja cada vez mais gananciosa, exigindo mais e mais dos operários.

Marx acredita que os operários estão em um círculo vicioso: o trabalho assalariado não cria propriedade para o proletário, e sim capital; este capital explora o trabalho assalariado, que só pode aumentar sob a condição de produzir novo trabalho assalariado, a fim de explorá-lo novamente.

O problema da propriedade privada é que ela pertence a um décimo da população. E é justamente por não existir aos nove décimos que ela pertence ao último décimo. Desta forma, o comunismo quer não expropriar alguém de suas posses, mas apenas destruir o poder de escravizar o trabalho alheio por meio desta atual apropriação.

Os operários não têm pátria. Isto significa dizer que as condições de exploração são iguais em qualquer parte do mundo, pois as idéias dominantes de um local são as idéias da classe dominante.

As etapas para atingir-se o “ápice” socialista seriam: 1º) o advento do proletariado como classe dominante; 2º) arrancar pouco a pouco todo o capital da burguesia, transferindo-o ao Estado; 3º) remoção dos antagonismos de classe, pois, existindo-se apenas a classe operária, já no poder, não haveria outras classes; 4º) exclusão do poder político, ou fim do Estado, que nada mais é do que o poder organizado de uma classe para a opressão de outra.

Com tal síntese, é fácil compreender a fala do autor citado em outra postagem: “...uma parte servia para pagar a subsistência dos trabalhadores (salários), outra para repor o capital inicialmente utilizado, e sobrava uma última parte de que os capitalistas, indevidamente, se apropriavam...” O autor, claramente, se baseia na ideologia socialista, tendo em vista sua preocupação em mostrar que, na visão dele, os capitalistas se apropriavam indevidamente do lucro, ou seja, do excedente -- e tal fato, na opinião do autor, é visto como ruim.

Vale lembrar que não há apenas um caminho correto a ser seguido quando se busca uma sociedade ideal. Liberalismo e socialismo são duas ideologias que, ainda que representem extremos, estão presentes, ambas, em nosso cotidiano. A questão é escolher o caminho proposto por uma ou por outra sem, no entanto, endeusar nenhuma das duas, posto que ambas trazem conseqüências negativas e positivas para todas as sociedades nas quais são implantadas.

Referências bibliográficas:

MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. O manifesto do partido comunista. São Paulo: Martin Claret, 2005.

WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: . Acesso em: 28 de outubro de 2007.


Um comentário:

Káh disse...

:)
Adoro esse seu blog!

Me sinto t�o satisfeita e honrada em "explorar" teu intelecto.

Ah, n�o encontrei o livro "Eichmann em Jerusal�m" para comprar, tem que fazer encomenda pela net mas na biblioteca da facul tem :D Acho que voc� vai gostar! Depois te conto mais detalhes.

Beijoooooo