5 de novembro de 2007

Voltando a falar de Marx (I)

Falar de Marx pode parecer, para muitos, um contra-senso; afinal de contas, o "socialismo real" ruiu em 1989-1991, com a queda do Muro de Berlim e com o fim da União Soviética. O que poucos sabem, porém, é que muitos dos princípios norteadores do nosso mundo contemporâneo foram formados e são sustentados em algumas das idéias marxistas, que tomaram corpo a partir da Revolução Russa de 1917. Como nesta semana comemoram-se os 90 danos de tal Revolução, resolvi lançar uma nova série de artigos falando das idéias de Marx e o ápice do "marxismo prático" com a própria Revolução Russa de 1917. Abaixo, o primeiro dos artigos sobre as idéias de Marx.

O Peso do Conhecimento

Karl Heinhich Marx, em sua longa jornada em busca do conhecimento, transformou-se em um dos maiores pensadores do século XIX, século este repleto de grandes pensadores, desde a economia à sociologia e filosofia, como Max Weber e Friedrich Nietzsche, que futuramente seriam considerados membros do denominado poderoso sistema acadêmico alemão do século XIX. Marx não só tornou-se um grande pensador como também deu origem a uma linha de pensamentos denominada marxismo. O marxismo, como diria Carl Grünberg (1), "serve para a descrição de um sistema econômico, de uma determinada cosmovisão e de um método de pesquisa bem definido". A Escola Marxista ilustra a grande contribuição do pensamento de Marx para a humanidade, pensamento este que deu origem a segmentos de diversas outras escolas no século XX, com autores renomados que contribuem em grande medida para o estudo da teoria política contemporânea. Para pouco citá-las, o marxismo originou segmentos da escola instrumentalista, sendo Ralph Miliband um dos maiores representantes de tal escola e o mais marxista de todos; da escola estruturalista, representada principalmente por Antonio Gramsci, Louis Althusser e Nicos Poulantzas; e da escola criticalista, tendo como grande representante Georg Lukács.

Nunca em toda a história da humanidade produziu-se tantas obras do pensamento político como no século XX, e neste contexto podemos encontrar uma imensa variedade de obras criticando o pensamento marxista no mundo ocidental, especificamente nos Estados Unidos. Isso ocorreu, e ainda ocorre, talvez pelo fato de o pensamento marxista ser visto como um grande vilão pelo capitalismo, pois sabe-se que Marx, como grande estudioso do capitalismo, procurou elaborar teorias que trouxessem transparência às graves contradições existentes no capitalismo. É importante lembrar que o pensamento marxista não é refletido pela estrutura da grande e extinta União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, coisa essa que muitos confundem. O que aqui queremos dizer é que a formação da União Soviética, apesar de em alguns aspectos fundamentar-se nas idéias de Marx, não representa o seu pensamento. Aqueles que se deixam levar por tal idéia acreditam que o fim da União Soviética ilustra claramente o fracasso e a impossibilidade de sucesso do pensamento de Marx. É claro que não se pode negar certas imperfeições no pensamento de Marx, dadas as transformações sociais, políticas e culturais que envolveram o mundo desde a morte de Marx até os dias atuais; porém, deve-se levar em consideração que, para o contexto mundial que Marx encontrou em sua época, suas idéias eram fatalmente mais praticáveis do que atualmente. O capitalismo de certa forma "aprendeu" a lidar com suas contradições, utilizando-se de idéias marxistas, transformando-as e adequando-as à sua realidade.

Faz-se necessário um grande esforço para se atingir uma idéia precisa do que seja o marxismo. "A expressão 'marxismo' designa um amplo movimento de idéias que se estende desde a filosofia até a política, sendo invocado tanto pelo filósofo liberal e humanista, quanto pelo tirano mais feroz" (GIANNOTTI, 1999, p. 10), e para tentar de alguma maneira sobreviver nesse imenso mar de idéias, muitas vezes nebuloso e em outras tantas claro e elucidativo, buscaremos deixar em evidência de forma bastante sucinta as principais características que fundamentam o pensamento marxista. Não queremos aqui de nenhuma forma ensinar ou esclarecer dúvidas que qualquer um possa vir a ter acerca do marxismo, mas somente enumerar alguns dos principais argumentos que sustentam o pensamento de Marx.

(1) Diretor do Instituto de Pesquisa Social de Frankfurt desde a sua criação até 1927, Grünberg iniciou o estudo do Arquivo de História do Socialismo e do Movimento Operário, enfatizando a necessidade de não se estabelecer privilégios para qualquer que seja a concepção, orientação científica ou opinião de partido.

Obs.: As referências bibliográficas completas serão apresentadas na última postagem sobre Marx.


Nenhum comentário: