(Continuação da postagem anterior.)
O AMBIENTE POLÍTICO DE 1995 A 1996 E A SEGUNDA FASE DA PRIVATIZAÇÃO
O grande acontecimento político de 1995 foi a realização, em dezembro, de eleições parlamentares federais. A população votou na oposição, como forma de mostrar seu descontentamento com a crise econômica, e o grande vencedor foi o Partido Comunista da Federação da Rússia, com 34,9% das 450 vagas da Duma. Em segundo ficou o partido Nossa Casa é a Rússia, do Primeiro-Ministro Chernomyrdin. Em terceiro, com 11,3% das vagas, ficou o Partido Liberal Democrata da Rússia, e em quarto ficou o Yabloko, com 10% das vagas (Segrillo, 2000b, 93).
Antes de prosseguirmos, é importante explicarmos a ideologia desses partidos. O Partido Comunista da Federação da Rússia (PCFR) foi fundado em 1993 como um “sucessor” do Partido Comunista da União Soviética. Apesar de socialista, não é revolucionário, privilegiando a atuação parlamentar. O Nossa Casa é a Rússia foi criado às vésperas da eleição, com o objetivo de ser um partido de centro-direita que apoiasse Yeltsin de maneira sólida. O Partido Liberal Democrata da Rússia (LDPR) tinha orientação fascista (extrema direita), e em seu discurso criticava o governo. Na hora de votar, contudo, o LDPR aliava-se ao governo, para barrar os comunistas. Por fim, o partido Yabloko pregava um capitalismo liberal mas sério, e não o capitalismo “irresponsável” de Yeltsin (Segrillo, 2000b, 94).
Em 1996, o fato político mais importante foi as eleições presidenciais. Desde cedo, a população se dividiu entre Yeltsin e Gennady Zyuganov, o candidato do PCFR. Correndo “por fora” estava o general Aleksandr Lebed. A disputa presidencial resumir-se-ia, desta forma, a um plebiscito entre capitalismo – representado por Yeltsin – e socialismo – representado por Zyuganov.
A estratégia de Yeltsin foi associar Zyuganov a um possível retorno aos tempos da ditadura soviética. Além disso, como o eleitorado via suas propostas com ceticismo, devido aos resultados alcançados na economia até então, Yeltsin partiu para promessas populistas e eleitoreiras, como por exemplo aumentar o valor das bolsas universitárias e o valor das aposentadorias. O candidato do PCFR, por sua vez, evitava debater sobre os conceitos de socialismo e capitalismo, afirmando que não faria reformas impensadas e radicais no país. Citava sempre a China como modelo a ser seguido, como um país socialista que oferece possibilidades concretas aos empresários, sem a influência preponderante do Estado na economia. Os resultados do primeiro turno mostraram a vitória apertada de Yeltsin, com apenas 3,25% de margem – Yeltsin teve 35,28% dos votos e Zyuganov 32,03% (Segrillo, 2000b, 96). Os dois candidatos foram para o segundo turno. Devido aos resultados do primeiro turno, com uma diferença tão pequena entre os candidatos, o segundo turno prometia ser disputado.
Os “homens de negócio” russos, ou seja, os oligarcas, ficaram preocupados com a possível vitória de um comunista e, conseqüentemente, com o possível fim dos seus privilégios e da sua influência no governo. Sendo assim, a oligarquia patrocinou maciçamente a campanha de Yeltsin, com anúncios nos jornais, revistas e na televisão, além de novamente associarem Zyuganov ao terror stalinista. “Algumas estimativas de observadores sobre o dinheiro jogado pelos oligarcas e aliados na campanha de Yeltsin chegavam a valores acima de US$ 50 milhões” (Segrillo, 2000b, 99). Além disso, Yeltsin conseguiu o voto daqueles que votaram em Aleksandr Lebed, que ficara em terceiro no primeiro turno, pois o presidente convidara o general para ser o chefe do Conselho de Segurança Nacional. Lebed viria a assinar um acordo de paz com os chechenos, acabando com a guerra. No dia da eleição, o resultado de todo esse trabalho surtiu efeito: Yeltsin recebeu 53,82% dos votos e Zyuganov 40,31%. A vitória de Yeltsin foi recebida com satisfação por aqueles que queriam a manutenção da economia de mercado na Rússia. O presidente recompensou seus aliados, dando cargos importantes inclusive para os próprios oligarcas, de quem falaremos agora.
Os oligarcas “são todos ex-burocratas ou empresários iniciantes do período soviético bem posicionados junto ao novo poder de Yeltsin. (...) Após o início da privatização, utilizaram, além das práticas comerciais regulares, suas posições privilegiadas (...) e mesmo subterfúgios escusos para adquirir ex-empresas estatais a preços baixos” (Segrillo, 2000b, 101). Lembremo-nos do processo de “privatização por cupons”, por exemplo: aqueles que tinham mais dinheiro compravam os cupons no seu preço nominal, apesar de estarem desvalorizados, e os utilizavam para comprar as empresas. Os membros do antigo PCUS eram outro exemplo: estes membros tinham informações privilegiadas sobre as empresas soviéticas, e utilizavam tais informações em benefício próprio. Os “mais fortes” conseguiram sobreviver e passaram a acumular cada vez mais: estima-se que menos de 10 oligarcas dominavam 80% das empresas privatizadas no país, em 1995 (Segrillo, 2000b, 101).
(Continua na próxima postagem.)
O AMBIENTE POLÍTICO DE 1995 A 1996 E A SEGUNDA FASE DA PRIVATIZAÇÃO
O grande acontecimento político de 1995 foi a realização, em dezembro, de eleições parlamentares federais. A população votou na oposição, como forma de mostrar seu descontentamento com a crise econômica, e o grande vencedor foi o Partido Comunista da Federação da Rússia, com 34,9% das 450 vagas da Duma. Em segundo ficou o partido Nossa Casa é a Rússia, do Primeiro-Ministro Chernomyrdin. Em terceiro, com 11,3% das vagas, ficou o Partido Liberal Democrata da Rússia, e em quarto ficou o Yabloko, com 10% das vagas (Segrillo, 2000b, 93).
Antes de prosseguirmos, é importante explicarmos a ideologia desses partidos. O Partido Comunista da Federação da Rússia (PCFR) foi fundado em 1993 como um “sucessor” do Partido Comunista da União Soviética. Apesar de socialista, não é revolucionário, privilegiando a atuação parlamentar. O Nossa Casa é a Rússia foi criado às vésperas da eleição, com o objetivo de ser um partido de centro-direita que apoiasse Yeltsin de maneira sólida. O Partido Liberal Democrata da Rússia (LDPR) tinha orientação fascista (extrema direita), e em seu discurso criticava o governo. Na hora de votar, contudo, o LDPR aliava-se ao governo, para barrar os comunistas. Por fim, o partido Yabloko pregava um capitalismo liberal mas sério, e não o capitalismo “irresponsável” de Yeltsin (Segrillo, 2000b, 94).
Em 1996, o fato político mais importante foi as eleições presidenciais. Desde cedo, a população se dividiu entre Yeltsin e Gennady Zyuganov, o candidato do PCFR. Correndo “por fora” estava o general Aleksandr Lebed. A disputa presidencial resumir-se-ia, desta forma, a um plebiscito entre capitalismo – representado por Yeltsin – e socialismo – representado por Zyuganov.
A estratégia de Yeltsin foi associar Zyuganov a um possível retorno aos tempos da ditadura soviética. Além disso, como o eleitorado via suas propostas com ceticismo, devido aos resultados alcançados na economia até então, Yeltsin partiu para promessas populistas e eleitoreiras, como por exemplo aumentar o valor das bolsas universitárias e o valor das aposentadorias. O candidato do PCFR, por sua vez, evitava debater sobre os conceitos de socialismo e capitalismo, afirmando que não faria reformas impensadas e radicais no país. Citava sempre a China como modelo a ser seguido, como um país socialista que oferece possibilidades concretas aos empresários, sem a influência preponderante do Estado na economia. Os resultados do primeiro turno mostraram a vitória apertada de Yeltsin, com apenas 3,25% de margem – Yeltsin teve 35,28% dos votos e Zyuganov 32,03% (Segrillo, 2000b, 96). Os dois candidatos foram para o segundo turno. Devido aos resultados do primeiro turno, com uma diferença tão pequena entre os candidatos, o segundo turno prometia ser disputado.
Os “homens de negócio” russos, ou seja, os oligarcas, ficaram preocupados com a possível vitória de um comunista e, conseqüentemente, com o possível fim dos seus privilégios e da sua influência no governo. Sendo assim, a oligarquia patrocinou maciçamente a campanha de Yeltsin, com anúncios nos jornais, revistas e na televisão, além de novamente associarem Zyuganov ao terror stalinista. “Algumas estimativas de observadores sobre o dinheiro jogado pelos oligarcas e aliados na campanha de Yeltsin chegavam a valores acima de US$ 50 milhões” (Segrillo, 2000b, 99). Além disso, Yeltsin conseguiu o voto daqueles que votaram em Aleksandr Lebed, que ficara em terceiro no primeiro turno, pois o presidente convidara o general para ser o chefe do Conselho de Segurança Nacional. Lebed viria a assinar um acordo de paz com os chechenos, acabando com a guerra. No dia da eleição, o resultado de todo esse trabalho surtiu efeito: Yeltsin recebeu 53,82% dos votos e Zyuganov 40,31%. A vitória de Yeltsin foi recebida com satisfação por aqueles que queriam a manutenção da economia de mercado na Rússia. O presidente recompensou seus aliados, dando cargos importantes inclusive para os próprios oligarcas, de quem falaremos agora.
Os oligarcas “são todos ex-burocratas ou empresários iniciantes do período soviético bem posicionados junto ao novo poder de Yeltsin. (...) Após o início da privatização, utilizaram, além das práticas comerciais regulares, suas posições privilegiadas (...) e mesmo subterfúgios escusos para adquirir ex-empresas estatais a preços baixos” (Segrillo, 2000b, 101). Lembremo-nos do processo de “privatização por cupons”, por exemplo: aqueles que tinham mais dinheiro compravam os cupons no seu preço nominal, apesar de estarem desvalorizados, e os utilizavam para comprar as empresas. Os membros do antigo PCUS eram outro exemplo: estes membros tinham informações privilegiadas sobre as empresas soviéticas, e utilizavam tais informações em benefício próprio. Os “mais fortes” conseguiram sobreviver e passaram a acumular cada vez mais: estima-se que menos de 10 oligarcas dominavam 80% das empresas privatizadas no país, em 1995 (Segrillo, 2000b, 101).
(Continua na próxima postagem.)
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