(Continuação da postagem anterior.)
A atividade central de cada oligarca era um banco, pois o capital financeiro e especulativo predominou na Rússia nos primeiros cinco anos de capitalismo naquele país, devido ao fato de o sistema industrial produtivo estar completamente desarticulado. Depois do banco, a principal atividade do oligarca relacionava-se com empresas de extração de recursos minerais. A Rússia é um país rico em petróleo, gás, pedras preciosas, madeira, etc., e os dólares que entravam no país pela venda desses produtos eram a única forma de fazer o país funcionar, já que quase não havia atividade industrial – com a exceção de poucas empresas comandadas pelos diretores vermelhos, que davam lucros excepcionais a estes diretores, o sistema produtivo não conseguiu se reerguer rapidamente. Assim, se por um lado as oligarquias traziam dinheiro para o país, por outro elas quase não pagavam impostos, pois o governo fazia “vista grossa” para suas atividades. O relacionamento entre as diversas oligarquias tornou-se aceitável entre eles após a delimitação das áreas de influência de cada oligarca. Deve-se fazer uma diferença entre os oligarcas e os diretores vermelhos, citados anteriormente. Os oligarcas se concentravam inicialmente no setor financeiro, com muitos já atuando no setor privado desde o final da Perestroika. Já os diretores vermelhos trabalhavam em empresas estatais no período soviético, e no período de Yeltsin continuaram atuando no setor produtivo.
Após a reeleição de Yeltsin, em 1996, os oligarcas atingiram o auge de seu poder, conseguindo adquirir grandes empresas com grande potencial lucrativo com a ajuda do governo, por meio da segunda fase da privatização, chamada de “privatização por empréstimos”. Esta fase ocorreu da seguinte forma: os banqueiros (oligarcas) “competiam” para oferecer os maiores empréstimos ao governo, ficando com o controle de ações de determinada empresa estatal como garantia. Se o governo não pagasse o empréstimo após certo tempo, os banqueiros podiam negociar tais ações – e várias empresas foram adquiridas pelos próprios bancos que cuidavam de suas ações. Desta forma, os banqueiros compravam as empresas estatais com o próprio dinheiro do governo, e ainda ganhavam com o pagamento dos juros do empréstimo feito ao governo. Deve-se destacar o fato de que a “competição” para os empréstimos era fachada, pois freqüentemente já havia um “acordo de cavalheiros” decidindo quem ficaria com o quê. Além disso, vale lembrar que estas empresas adquiridas por este processo foram empresas utilizadas primordialmente para a especulação financeira, e não para resultados produtivos.
O AMBIENTE POLÍTICO DE 1997 A 2000 E A CRISE RUSSA
O ano de 1997 foi considerado um ano tranqüilo em geral, considerando-se a manutenção de Yeltsin no poder após as eleições de dezembro de 1996 e, conseqüentemente, também a continuação das políticas que beneficiavam a elite do país. Pela primeira vez na década, a Rússia conseguiu um crescimento positivo do PIB, além de conseguir certa estabilidade financeira com a queda da inflação. Iniciou-se uma abertura lenta, porém gradual, no sentido de se permitir o ingresso de capital estrangeiro em áreas estratégicas. Isso não foi um problema, pois os oligarcas russos já tinham o controle das empresas mais lucrativas, devido à “privatização por cupons” e à “privatização por ações”.
Em 1998, a Rússia passou por grandes problemas econômicos que se refletiriam no campo político. O governo russo se endividava cada vez mais para poder obter recursos, pois nem a população – que estava em dificuldades econômicas – e nem os oligarcas – por sua proximidade com o governo – pagavam impostos. A inadimplência era generalizada, o que fazia com que o governo russo emitisse títulos que chegavam a ter juros de 200%. As receitas do orçamento federal eram menores do que a dívida do governo com as “Obrigações de Curto Prazo do Tesouro” (GKO) (Segrillo, 2000b, 109). Para complicar, os próprios governos das regiões administrativas russas também podiam emitir seus próprios títulos.
Um sinal de que a coisa não ia bem surgiu em abril de 1998, quando o governo colocou GKOs à venda e não conseguiu atrair muitos compradores. O Primeiro-Ministro Sergey Kirienko, que substituíra Chernomyrdin, encontrou na sonegação fiscal uma forma de conseguir dividendos para o país. Ao pressionar os oligarcas para que eles pagassem seus impostos, estes conseguiram convencer Yeltsin a demitir Kirienko. Mesmo com o empréstimo de emergência do FMI em julho, no valor de US$ 22 bilhões, a Rússia não conseguiu manter a confiabilidade. O resultado de toda a especulação dos últimos sete anos foi a desvalorização do rublo, o não pagamento de US$ 40 bilhões em GKOs de curto prazo e uma moratória de 90 dias de qualquer pagamento, por entidades russas, a credores estrangeiros. Todas estas medidas foram tomadas no dia 17 de agosto de 1998.
(Continua na próxima postagem.)
A atividade central de cada oligarca era um banco, pois o capital financeiro e especulativo predominou na Rússia nos primeiros cinco anos de capitalismo naquele país, devido ao fato de o sistema industrial produtivo estar completamente desarticulado. Depois do banco, a principal atividade do oligarca relacionava-se com empresas de extração de recursos minerais. A Rússia é um país rico em petróleo, gás, pedras preciosas, madeira, etc., e os dólares que entravam no país pela venda desses produtos eram a única forma de fazer o país funcionar, já que quase não havia atividade industrial – com a exceção de poucas empresas comandadas pelos diretores vermelhos, que davam lucros excepcionais a estes diretores, o sistema produtivo não conseguiu se reerguer rapidamente. Assim, se por um lado as oligarquias traziam dinheiro para o país, por outro elas quase não pagavam impostos, pois o governo fazia “vista grossa” para suas atividades. O relacionamento entre as diversas oligarquias tornou-se aceitável entre eles após a delimitação das áreas de influência de cada oligarca. Deve-se fazer uma diferença entre os oligarcas e os diretores vermelhos, citados anteriormente. Os oligarcas se concentravam inicialmente no setor financeiro, com muitos já atuando no setor privado desde o final da Perestroika. Já os diretores vermelhos trabalhavam em empresas estatais no período soviético, e no período de Yeltsin continuaram atuando no setor produtivo.
Após a reeleição de Yeltsin, em 1996, os oligarcas atingiram o auge de seu poder, conseguindo adquirir grandes empresas com grande potencial lucrativo com a ajuda do governo, por meio da segunda fase da privatização, chamada de “privatização por empréstimos”. Esta fase ocorreu da seguinte forma: os banqueiros (oligarcas) “competiam” para oferecer os maiores empréstimos ao governo, ficando com o controle de ações de determinada empresa estatal como garantia. Se o governo não pagasse o empréstimo após certo tempo, os banqueiros podiam negociar tais ações – e várias empresas foram adquiridas pelos próprios bancos que cuidavam de suas ações. Desta forma, os banqueiros compravam as empresas estatais com o próprio dinheiro do governo, e ainda ganhavam com o pagamento dos juros do empréstimo feito ao governo. Deve-se destacar o fato de que a “competição” para os empréstimos era fachada, pois freqüentemente já havia um “acordo de cavalheiros” decidindo quem ficaria com o quê. Além disso, vale lembrar que estas empresas adquiridas por este processo foram empresas utilizadas primordialmente para a especulação financeira, e não para resultados produtivos.
O AMBIENTE POLÍTICO DE 1997 A 2000 E A CRISE RUSSA
O ano de 1997 foi considerado um ano tranqüilo em geral, considerando-se a manutenção de Yeltsin no poder após as eleições de dezembro de 1996 e, conseqüentemente, também a continuação das políticas que beneficiavam a elite do país. Pela primeira vez na década, a Rússia conseguiu um crescimento positivo do PIB, além de conseguir certa estabilidade financeira com a queda da inflação. Iniciou-se uma abertura lenta, porém gradual, no sentido de se permitir o ingresso de capital estrangeiro em áreas estratégicas. Isso não foi um problema, pois os oligarcas russos já tinham o controle das empresas mais lucrativas, devido à “privatização por cupons” e à “privatização por ações”.
Em 1998, a Rússia passou por grandes problemas econômicos que se refletiriam no campo político. O governo russo se endividava cada vez mais para poder obter recursos, pois nem a população – que estava em dificuldades econômicas – e nem os oligarcas – por sua proximidade com o governo – pagavam impostos. A inadimplência era generalizada, o que fazia com que o governo russo emitisse títulos que chegavam a ter juros de 200%. As receitas do orçamento federal eram menores do que a dívida do governo com as “Obrigações de Curto Prazo do Tesouro” (GKO) (Segrillo, 2000b, 109). Para complicar, os próprios governos das regiões administrativas russas também podiam emitir seus próprios títulos.
Um sinal de que a coisa não ia bem surgiu em abril de 1998, quando o governo colocou GKOs à venda e não conseguiu atrair muitos compradores. O Primeiro-Ministro Sergey Kirienko, que substituíra Chernomyrdin, encontrou na sonegação fiscal uma forma de conseguir dividendos para o país. Ao pressionar os oligarcas para que eles pagassem seus impostos, estes conseguiram convencer Yeltsin a demitir Kirienko. Mesmo com o empréstimo de emergência do FMI em julho, no valor de US$ 22 bilhões, a Rússia não conseguiu manter a confiabilidade. O resultado de toda a especulação dos últimos sete anos foi a desvalorização do rublo, o não pagamento de US$ 40 bilhões em GKOs de curto prazo e uma moratória de 90 dias de qualquer pagamento, por entidades russas, a credores estrangeiros. Todas estas medidas foram tomadas no dia 17 de agosto de 1998.
(Continua na próxima postagem.)
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